Tentando equilibrar as discussões sobre a atuação da empresa Voltalia no município de Serra do Mel, o deputado estadual Ubaldo Fernandes (PSDB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, promoveu uma audiência pública nesta sexta-feira (11), reunindo parlamentares, representantes da empresa, do Ministério Público e entidades civis. O debate girou em torno de uma ação judicial que cobra R$ 106 milhões da multinacional francesa, que opera mais de 80 torres eólicas na região, recursos que seriam geridos por CUT, Fetarn e SAL.
Mas foi a contundente fala do prefeito Kênio Azevedo e do ex-prefeito Josivan Bibiano que trouxe à tona o verdadeiro sentimento de indignação da população local. Ambos foram firmes ao defender os produtores rurais e denunciar os efeitos que a ação judicial pode causar à economia do município.
“Não concordo com a retirada das eólicas e vou trabalhar para que isso não aconteça”, declarou o prefeito Kenio, ressaltando o impacto positivo da geração de energia renovável para Serra do Mel. Ele dividiu o tempo de fala com o ex-prefeito Bibiano, que fez um apelo direto às entidades responsáveis pela ação.
“Em nome de todos os produtores: retirem a ação e vamos discutir melhorias, para que o povo não seja prejudicado”, clamou Bibiano. “Nunca vou estar contra os meus produtores. Sou contra a ação civil pública pelas coisas absurdas que colocaram.”
Bibiano lembrou que todos os contratos firmados na implantação dos parques foram lidos por seus signatários, e que não se pode apagar os ganhos econômicos trazidos nos últimos 12 anos. “Que pena que nossos produtores não estão nesse plenário”, lamentou, diante da impossibilidade de presença física, compensada por telões instalados pela Assembleia Legislativa.
O clima de tensão na audiência foi acentuado com divergências entre os representantes da empresa, os autores da ação e os parlamentares. A promotora Kaline, do Ministério Público, defendeu a ação e sugeriu mais investigações quanto aos impactos ambientais. Já a defensora pública Giovanna Burgos pontuou que, mesmo sendo tardia, a discussão trouxe visibilidade aos problemas vividos por moradores próximos às torres.
Enquanto entidades como CUT e Fetarn mantêm a ação, a maioria dos produtores rurais, representados por suas lideranças políticas locais, demonstrou-se contra a iniciativa, temendo prejuízos sociais e econômicos. A diretora da Voltalia, Ariana Machado, afirmou que a empresa nunca foi convocada anteriormente para esse tipo de debate, mesmo operando há mais de uma década na região.
O deputado Ubaldo Fernandes concluiu a audiência afirmando que a Comissão agiu com imparcialidade e que continuará promovendo espaços de escuta. Ele reforçou que o momento exige responsabilidade e equilíbrio: “Não estamos aqui para julgar, mas para buscar caminhos justos e sustentáveis para todos.”
A audiência pública acendeu um alerta em Serra do Mel: o futuro da energia renovável na região precisa ser debatido com diálogo, transparência e, sobretudo, ouvindo quem mais sente os impactos — os moradores e produtores da terra.
Com informações e fotos da ALRN
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