Memorial às vítimas de Covid

sábado, 23 de julho de 2011

 REFLEXÃO

As drogas e a morte de Amy Winehouse

Queria entender uma coisa, sinceramente: o que a morte de Amy Winehouse tem a ver com a descriminalização das drogas? Dizendo melhor: a morte de um dependente químico por overdose é argumento válido contra a descriminalização das drogas?

Quem interliga os dois pontos comete o pecado de construir um argumento muito frágil. Afinal, só para começo de conversa, Amy não vivia em um lugar em que o comércio de drogas fosse legal. Ou seja, ela morreu de overdose em um contexto em que as drogas são ilícitas. A culpa de ter se tornado dependente e ter vindo a falecer não pode, com honestidade intelectual, ser vinculada a quem promove uma Marcha da Maconha, por exemplo.

Quando se fala em descriminalizar as drogas está se pensando em política de redução de danos porque se tem clareza do que mortes por droga apontam com clareza: drogas não são questão de polícia, mas de saúde. Descriminalizar as drogas anda de par com uma política de conscientização de riscos, estímulo a recuperação de dependentes, enfim, um amplo espectro de políticas de saúde pública tendo esse público como alvo. Com ou sem descriminalização as cracolândias existirão. E não chegarão ao fim por repressão policial. Exemplo de política de saúde eficiente pode ser dado pelos CAPS AD e pelos consultórios de rua.

A dificuldade para a descriminalização das drogas avance em países como o nosso não são morais, políticos ou policiais. São financeiros. O tráfico de drogas é um dos negócios mais rentáveis do mundo, andando ao lado do tráfico de armas. Existem muitos interesses econômicos em jogo que se colocariam em risco com uma postura assim. Quem fatura no tráfico não é o gerente de um morro carioca. O dinheiro irriga contas em volumes muito maiores e muito acima dos morros do Rio ou das vielas de Felipe Camarão e Mãe Luiza.

O modo de funcionamento do negócio tráfico de drogas e crime organizado foi mostrado de uma maneira simplificada mas real em Tropa de Elite 2. Se no primeiro filme, Nascimento e os espectadores tinham uma noção inocente de que o consumidor de drogas é o principal - se não único - financiador do tráfico e do crime organizado, Tropa 2 deixa claro que o Sistema é muito maior.

Beira a inocência associar o consumidor de drogas, as marchas pela sua legalização à morte de Amy Winehouse - ou de qualquer outro dependente. Inclusive porque soa como se gente, tal qual meu pai, não morresse por sua dependência de drogas lícitas como o álcool, ou o cigarro.
 
Por Daniel Dantas.

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