Memorial às vítimas de Covid

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


A MÁSCARA QUE ESCONDE A VERGONHA DOS COVARDES


A máscara nem sempre é sinônimo de anonimato, camuflagem, disfarce. Ela pode representar o bem ou ter o status do mal. Da antiguidade ao nosso tempo, nas mais variadas culturas, ela tem servido a diversas manifestações.

No artigo 5º, IV,  da Constituição do Brasil, está expresso como um direito fundamental que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Simplificando: eu, você, nós podemos – em tese e conforme a lei – nos pronunciar sobre o que pensamos, mas desde que às claras, sem uso de artifícios como nome/endereço falso.
Cada um deve responder por eventuais excessos na forma da lei.

“Persona” era o nome da máscara que atores do teatro grego usavam. A palavra é derivada do verbo personare (“soar através de”). Cada persona dava uma identidade própria ao artista e o ajudava até na formatação da fala. Entretanto os gregos não têm o privilégio dessa invenção.

As máscaras remontam há cerca de 30.000 A.C. Tinham e possuem inúmeras utilidades até hoje. No Egito antigo eram obrigatórias. Ajudavam os faraós e sua família na passagem à vida eterna.

Romanos as colocavam em cerimônias religiosas. Na China serviam para afastar maus espíritos. O mesmo sempre ocorreu entre povos indígenas em todos os continentes, com seus líderes religiosos as usando em cerimônias de culto aos deuses, casamento, rituais de cura ou convocação à guerra.

Na Itália medieval e renascentista, virou Pierrot, Colombina e Arlequim. Passou a ser uma marca multissecular de Veneza, símbolo do carnaval no século XV. Um pulo para chegar ao Brasil do século XX, ganhando as ruas e clubes, com graça ou forma de crítica política e social.

Entre tribos africanas, a máscara sempre teve forte conotação religiosa, como símbolo de uma sociedade e força espiritual, encantando o explorador europeu.

No imaginário infanto-juvenil, a máscara lembra herois. Pode ser o Zorro, em permanente defesa da liberdade, com capa e espada. O Capitão América, nascido em plena Segunda Guerra Mundial, como ícone da propaganda patriótica norte-americana.  

Verdugo
Mascarados, eles tinham no anonimato uma forma de segurança à sua própria luta contra o mal. Anonimato justificável, voltado para o interesse coletivo.
“Anonimato” vem do grego: significa “sem nome”. Em alguns países é permitido ao cidadão ocultar sua própria identidade. É uma forma de fazer valer o direito à privacidade, desde que não seja usado para ações ilegais.

No Brasil e em outras partes do mundo, há quem consiga até mudar de nome e rosto, como garantia à própria preservação física, depois de colaborar como depoente em cruzadas contra o crime organizado. Outra boa razão para se esconder, que se diga.

Mas o que justificaria pessoas com espaços na imprensa, meios financeiros consideráveis, poder institucional, pleno conhecimento da lei, boa formação familiar e inserção social, utilizarem uma máscara na Internet? Por que fazer uso do anonimato para agredir outras pessoas, promover linchamento moral e expor até mesmo criança recém-nascidas à ridicularização? 

Em períodos  de exceção, o anonimato sempre foi uma arma letal para enfrentar o arbítrio, em necessário combate. Contudo em épocas de normalidade democrática, esse artifício nem sempre tem um papel decente. Há quem o transforme num crime que mistura deslealdade com canalhice.

Degrada vítimas, mas sobretudo revela a baixa estatura moral de seus autores.

O verdugo que acionava a guilhotina na França, para cortar o pescoço de desafetos dos donos do poder, não tinha um capuz sobre a cabeça por vergonha do seu trabalho como destacado “servidor público”. Era à sua própria proteção. Precisava guardar o anonimato.

Quem cria e produz uma página na Internet, sem identificação, para manifestar seus distúrbios psicossociais, nem carrasco consegue ser. Sua primeira vítima é a própria identidade, que desonra por não se sentir bem sendo o que é: um covarde. Vergonha para a própria família.

Fonte: Carlos Santos.

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