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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

HISTÓRIA

Mitos da historiografia

Não há mitos na História. Porque ela não é o que se conta, mas o que ela é. Os mitos são habitantes da historiografia, apenas disciplina histórica. Na contagem dos fatos, seja de forma didática ou literária, escrita ou oral, os mitos nascem por várias razões. Seja pela razão do vencedor ou pela artimanha das invenções.

Recentemente, vi na TV Senado um relato resumido sobre a força do Senador Pinheiro Machado num determinado momento da República.

E dois historiadores concluem, com palavras diferentes, o mesmo mito. De que a morte de Pinheiro Machado foi o fim de um ciclo da República.

O Senador gaúcho realmente encarnou o período republicano que vai da posse do vice-presidente Nilo Peçanha, a completar o mandato de Afonso Pena, até o início do Governo Venceslau Brás, quando foi apunhalado pelas costas na saída do Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro.

Tudo isso é fato, assim como também é fato a comoção nacional, tomada pelo lamentável evento.

O mito reside na afirmação de que o crime teve a motivação de negar o estado de coisas que marcavam a política de então e o condão de encerrar esse ciclo.

Após o Governo de Floriano, todos os presidentes civis tiveram por trás de suas decisões um ou mais condestáveis, que realmente manipulavam as decisões políticas. Num primeiro momento foi Bernardino de Campos, sempre preterido para a sucessão, mesmo sendo o preferido dos dois primeiros mandatários. Prudente de Morais e Campos Sales não conseguiram emplacar suas escolhas. Do governo de Rodrigues Alves em diante, até a posse de Nilo Peçanha, quem mandava na República era Francisco Glicério. Que foi substituído por Pinheiro Machado.

O crime teve motivação pessoal e consequências políticas, assim como o assassinato de João Pessoa, muitos anos depois.

Outro mito desse período da República é que Rui Barbosa nunca chegou à presidência por conta de Pinheiro Machado. Ora, agora havia uma sucessão presidencial, sem a presença do Senador gaúcho.

Foi eleito para suceder a Venceslau o ex-presidente Rodrigues Alves. Não tomou posse, pois morreu vítima da gripe espanhola. O vice, Delfim Moreira, não concluiu o mandato, acometido de debilidade esclerótica.

Era a vez de Rui Barbosa. Ele tentara ser presidente em várias sucessões anteriores. Seria o candidato natural, sem a incômoda presença de Machado. O que ocorreu? Disputou a presidência contra um candidato ausente, pois Epitácio Pessoa estava na Europa chefiando uma delegação de paz, oferecida a Rui, que declinou para cuidar da campanha.

E o hábito eleitoral das verificações de poder, antes nas mãos de Pinheiro Machado, agora estava nas mãos dos seus sucessores, que mais uma vez derrotaram Rui e elegeram um candidato que nem estava no Brasil.

O ciclo só termina em Trinta. Com o advento de outro mito que virou ditadura. Té mais.

François Silvestre

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