sexta-feira, 19 de setembro de 2025
REGIONAL - Novo crustáceo de cavernas descrito em Baraúna/RN revela relíquia marinha.
Um novo gênero e espécie de crustáceo encontrado em cavernas da Formação Jandaíra, no Rio Grande do Norte e no Ceará, foi oficialmente descrito. Batizado de Bralilana spelaea, o animal pertence à família Cirolanidae — predominantemente marinha — e é considerado um relicto oceânico, já que seus ancestrais ficaram presos em cavernas e outros habitats subterrâneos quando o nível do mar recuou, milhões de anos atrás.
Segundo o pesquisador Diego Bento, analista ambiental do ICMBio/Cecav e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da UFRN, trata-se da espécie troglóbia (exclusivamente subterrânea) mais emblemática do estado. Conhecida desde o início dos anos 2000, ela só agora foi descrita oficialmente. “É uma espécie emblemática porque foi a primeira troglóbia encontrada no RN. Ela marca o início das pesquisas em biologia subterrânea na região e abriu caminho para a descoberta de dezenas de outros organismos adaptados ao ambiente das cavernas”, explica.
A primeira ocorrência foi registrada em uma caverna no município de Felipe Guerra, durante prospecções espeleológicas. A espécie chamou atenção por integrar uma família de animais marinhos que, no RN, desenvolveram adaptações únicas ao ambiente subterrâneo, como perda de visão, ausência de pigmentação e maior desenvolvimento de estruturas sensoriais.
A pesquisa contou com a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV), ligado ao ICMBio, e teve participação decisiva da UFRN. O doutorado de Diego, orientado pelo professor Sérgio Lima, analisou o DNA de diferentes populações e confirmou que se trata de uma única espécie distribuída por vários municípios do RN. “A UFRN esteve presente tanto nos primeiros registros como agora, na identificação molecular e descrição morfológica da espécie”, reforça.
O reconhecimento científico da espécie é considerado um marco para a conservação. Com a descrição, Bralilana spelaea pode ser incluída em iniciativas oficiais de conservação, como a avaliação de risco de extinção, podendo se tornar prioritária em ações de preservação. “Com essa descrição, damos visibilidade a um organismo que já era conhecido há mais de 20 anos, mas que agora existe formalmente para a ciência. Isso abre espaço para políticas de conservação voltadas aos seus habitats”, afirma Diego.
Atualmente, o Rio Grande do Norte concentra uma das maiores comunidades de espécies troglóbias da América do Sul. São 104 conhecidas, mas apenas 12 já descritas, incluindo Bralilana spelaea. De acordo com Diego, a expectativa é ampliar o número de espécies descritas até o próximo ano. “Nosso objetivo é chegar a pelo menos 20 ou 25 espécies. É um avanço, mas ainda temos muito trabalho pela frente”, destaca o pesquisador.
Fonte: UFRN
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